17 de mai. de 2009

Palco

Voltei agora de um lugar que durante muitos anos, há muitos anos, foi quase que minha segunda casa, o Teatro Municipal de Santo André assim, com letras maiúsculas mesmo, porque merece todo meu respeito. Fazia anos que eu não entrava lá, acho que uns 10 mais ou menos, e da última vez já fazia tempo que eu havia parado de dançar. E hoje fui até lá para ver um espetáculo coreografado pela minha primeira professora de ballet quando ela apareceu ao final do espetáculo, ouvi a sua voz no telefone quando ela me ligou para se despedir, sem dizer que estava indo embora. Era noite, estava de camisola pronta pra dormir e minha mãe me chama para atender uma chamada
- Alô? eu disse
- Petrin? – ela me chamava pelo sobrenome (e eu odiava) – tudo bem? Como foi na escola hoje? Seja uma boa aluna e não falte no ballet, tá? Um beijo pra você, deixa eu falar com a mamãe. Tchau....
- Tchau, respondi, sem entender muito bem na hora, nem depois quando fomos – eu e as meninas da sala – apresentadas para a nova professora.
Fui entender muito tempo depois e agradeci, mesmo sem encontrar com ela pessoalmente, a sua delicadeza.
Comprei o ingresso, e entrei no teatro. A mesma decoração, o mesmo carpet, luzes e o cheiro...ahhhhh! o mesmo cheiro, é possível????
Fui pra platéia e percebi que as poltronas eram as mesmas, até a mesma cor do couro nas cadeiras – algumas acho que foram trocadas, mas mantiveram o modelo e a cor. Sentei no meu lugar marcado sem identificação, só tinha na fileira central, foi difícil encontrar... A mesma cortina de veludo vermelha, linda...
me enrosquei ali tantas e tantas vezes, olhava escondido no centro entre um lado e outro dos panos para ver quem estava de conhecido ali pra me assistir.
Vi, sentada na platéia, a sombra dos pés dos bailarinos se aquecendo. Lembro uma vez eu fiquei conversando na sala de luz e som, lá em cima. Quando percebi, o espetáculo tinha começado e eu entrava na quarta coreografia, desci e fui correndo para os camarins, que ficava nos fundos do palco. Como o espetáculo tinha começado, estava tudo escuro ali na lateral do palco e eu correndo tropecei em uma caixa da cenografia e vummm, voei por cima e pra longe da caixa. Quem estava dançando conseguiu ouvir o barulho. Três coreografias depois estava eu, com as lágrimas enxutas e na garganta de tanta dor e um talho no joelho no palco, como se nada tivesse acontecido.
Nossa, quantas lembranças...passávamos os finais de semana de apresentação ali, almoçando e jantando nos camarins. Tanta cumplicidade, tanta alegria e tanta dor nos pés. Tantos olhares cúmplices no palco quando alguém esquecia ou se perdia durante uma coreografia. Uma vez, em um espetáculo cujo tema era o circo, eu me enganchei em uma escada cenográfica. Eu era a equilibrista e minha sombrinha se prendeu nessa escada e a “palhaça” me salvou dessa. Consigo ver o rosto dela na minha frente agora, mas não me lembro seu nome.
Vi os bailarinos hoje orgulhosos e felizes nos aplausos finais, que sensação deliciosa, de vitória, de orgulho, de se sentir artista e ter cumprido seu papel. Receber seu “pagamento” com esses aplausos.... e dormir depois, nem pensar, haja adrenalina, haja caber dentro desse corpo cansado e feliz.
Esse sentimento veio forte e pleno, como se tivesse sido ontem, mas que está prestes e re estrear, num outro movimento e que os deuses desse palco me levem de volta pra casa, muito em breve.

JABÁ GRATUÍTO: livro COMER, REZAR, AMAR de Elizabeth Gilbert, Ed. Objetiva.
E por falar em memórias e re encontros, tente tirar uma história sua dentro da história da autora.

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