Sai no final daquele dia ensolarado para andar de bicicleta, trilha do filme Amelie Poulain no i-pod (ok, não é o som mais adequado para andar de bicicleta mas era a que estava na ordem e deu preguiça de trocar).
O volume era exato, dava pra ouvir aquela musiquinha francesa deliciosa e também ouvir o som da rua, por segurança.
Parecia início de filme mesmo, a minha sombra no asfalto, vento no rosto, na paisagem pastos, casinhas típicas do interior, pessoas simples do campo voltando do trabalho, crianças saindo da escola, felizes, correndo pela rua, sem medo.
De repente, ouço um som muito alto: 81, 23, 57, 22 - dois patinhos na lagoa... Vi uma cena, digamos, diferente. Um senhor cantava os números do bingo, no pátio do lado de fora da igreja, ecoados no alto falante para... duas pessoas (sendo que uma delas nem estava jogando, mas prestava bastante atenção).
Tudo bem, a cena foi melhor na hora que vi do que lendo agora, mas eu, na hora que vi aquilo só pude pensar em uma coisa: eu só estou vendo isso porque eu me movimentei.
Vou explicar: estava eu em uma semana sabática, entre um emprego e outro, sozinha no meu sitio, pensando, e muito, na vida, no que eu fiz e em muito do que deixei de fazer. Das vezes em que me acomodei e em tantas outras que tive receio, medo e até preguiça de sair da zona de conforto.
Nessa paralisia, deixei de ver e de fazer muitas coisas que tinha vontade, de realizar sonhos...Percebi que deixei a vida me levar pelo caminho que ela escolheu e eu, simplesmente não fiz nada, não questionei, não desafiei, aceitei simplesmente.
Não estou desvalorizando tudo que passei, nem anulando todos esses aparentes inúteis anos, não vou fazer isso comigo, não vou desvalorizar minhas conquistas, porque eu as fiz, não as que eu desejava de fato, mas dentro do que eu pude ter feito eu devo dar seu devido valor.
Mas agora, agora é diferente, agora eu quero sair. Entender (e aceitar) as dificuldades, apreciar a beleza da vida, ignorar os preconceitos.
Preciso acreditar naquilo que eu quero fazer e não mais nas imposições externas. Ter paciência, tolerância e ser gentil comigo. Ir atrás desse “sonho” por mim e daí, se tiver sorte, abrir os olhos e ver meu pátio cheio como eu vi dois dias depois, andando de bicicleta novamente passando pelo mesmo local, do lado daquele senhor cantando os números do bingo ecoados no alto falante. E todos participando daquele jogo, sem pretensões.
JABÁ GRATUITO: pra quem é ou vem a São Paulo, não deixe de passar no bairro de Pinheiros mais especificamente na Rua Pe Carvalho, 91. Numa casinha muito charmosa, cheia de passarinhos e tartarugas (cada um com seu nome próprio), você vai encontrar os mais deliciosos doces feitos ali, com todo amor e carinho como na casa da vovó. Coma uma saladinha primeiro se você ainda não almoçou e depois se acabe nas sobremesas. Na dúvida, as atendentes te darão a melhor dica da hora - acredite, aconteceu comigo...
Foi fazendo brigadeiros para as festinhas de criança que tudo começou (hum, esse foi meu projeto no Empretec, acho que foi uma boa idéia) e do mesmo jeito caseiro, todas as outras delícias da casa são feitas toda hora.
Pra dar água na boca acesse http://www.brigadeirodoceria.com.br/, mas, na boa, se puder, vai lá e depois me conta.