8 de jan. de 2015

Amiúde

Meus lábios disfarçam silêncios
Meus olhos desnudam minhas fraturas expostas
Extraio sonhos de lugares desconhecidos
Exporto sem saber seus CEP.
Recebo poemas sem saber de onde chegam e a quem devo endereçá-los
Sou apenas um veiculo
Sedenta de combustível
Me pergunto se sonhos habitam os mesmos lugares dos poemas
Insisto em dormir para não perdê-los já que desconheço suas origens e temo não mais alcançá-los
Me deixo ser matéria deles, uma forma de reter e de me reconhecer, porque não faço idéia de quem eu verdadeiramente seja
A beira de ser aquela que ama, que deseja, que possui e que expurga 
Anseio enveredar-me por oníricos mundos amiúde .
despida de ego e identidade, esquecida de meu nome e idade, selvagem e absoluta
Sonhar-me sem culpa, sonhar-me não lúcida, ao mesmo tempo que elucidando fantasias possíveis
Retratos se gastam e somem
Rogo para que não me acordem
Sou devota de uma desordem dormente que se esgota na aurora
É como experimentar a beleza da morte e retornar em si mesma sentindo vestígio de um sutil verossímil perigoso, vil, 
fim...
Recebo eletro - choques na cervical que me fazem lembrar que estou tencionada por estar demasiadamente acordada.


Camila Nunez Muitas

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