Cansada da poeira, do cimento e areia mal misturados, das desculpas do pedreiro e do atraso da obra de seu primeiro apartamento próprio, a senhora foi dar uma volta a pé.
Era um final de semana prolongado, a cidade estava quieta e quente. Muito quente.
Céu azul, sol brilhando, vento ausente.
Transpirava muito. Respiração ofegante. Não sabia se era efeito do calor ou da angústia por estar vivendo tudo aquilo na mais injusta solidão. Naquela altura da vida.
Pensava, pensava tanto em tantas coisas. Seu pensamento a ensurdecia.
Pessoas entravam e saiam da sua mente. Vinham de lugares tão distantes e esquecidos. Algumas teve até vontade de trazer de volta, outras teve medo que voltassem.
Ah, ela precisava de ar fresco. E de amor. Não era justa aquela solidão. Naquela altura da vida.
Resolveu voltar pro apartamento. Ficaria naquele pó um pouco mais e depois ia embora no seu carro velho pra casa onde morava provisoriamente.
Um vento traiçoeiro levanta a sua saia como um menino maroto que toca a campainha da casa do vizinho e sai correndo achando engraçado imaginar a cara da Dona Maria cheia de bobes na cabeça se perguntando se ela tinha ou não ouvido a campainha tocar.
Sem graça, ela olha para os lados preocupada se alguém tinha visto a cena. Imagina! Que desaforo! E foi atrás do vento atrevido tirar satisfações, vejam só.
Ao dobrar a esquina se deparou com uma grande tenda, no meio da praça. Parada, tentou entender o que estava acontecendo.
Era um circo? Era uma festa? Era um abrigo? pensava...
- É isso tudo e muito mais! - disse alguém sussurrando no ouvido dela.
Assustada, deu um pulo pro lado e olhou na direção da voz. Não havia ninguém.
Sem se preocupar muito com a voz, voltou-se para a tenda e foi caminhando em direção à ela. Cada passo mais próximo, vê mais e mais pessoas na praça. Notou que estavam felizes. Notou que estavam tranquilas. Notou qu...
- Quer entrar?- ouviu a voz novamente.
E ela entrou.
Lá dentro tudo tinha cor, tinha brilho, tinha arte.
De um lado, palhaços. De outro cantores. Na frente um homem com uma peruca loira gesticulava prendendo a atenção da platéia. Tinha gente dançando, tinha gente filmando.
Até o ator do filme que ela viu na semana anterior estava lá. Tocando violão e cantando com outras duas atrizes. Liiiiiiiiindos.
E ela cantou também, baixinho. Baixinho cantou. E dançou. E chorou. E riu - dessa vez bem alto. Sem vergonha. Semvergonha. E se a vergonha corasse suas bochechas por ver o travesti nu tratava logo de culpar o calor.
Exausta, saiu da tenda. Olhou pro céu e já era noite. A lua, mais redonda do que nunca, iluminava ainda mais aquela praça que já tinha seu brilho próprio.
Entrou na tenda senhora e saiu moça.
Satirizou sua solidão. Aplaudiu de pé sua performance. Agradeceu emocionada. Saiu de cena.
Foi dormir feliz.
7 comentários:
Lu querida, maravilhoso o seu depoimento "finados". Adorei. beijão, Bia.
Oi Lu, Há quanto tempo.......!!!!!
Você sumiu de Araçoiaba?!?!?!?!
Sinto muita saudade de você!!!
Beijos, de alguem que jamais te esqueceu!!!!
Se Lembra???????..........
Não sei porque você se foi
Quantas saudades eu senti
E de tristezas vou viver
E aquele adeus não pude dar...
Você marcou na minha vida
Viveu, morreu
Na minha história
Chego a ter medo do futuro
E da solidão
Que em minha porta bate...
E eu!
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você...
Pô, nem uma dica?
Quando você se lembra de Araçoiaba, não vem ninguém na tua cabeça????
Vem, várias pessoas. QUEM É??? rsrs
Nenhuma em especial?????
Obs:. Você é curiosa??????
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